Prosas
ciclos viciosos (morte à saudade)

Puro instinto! Só, "simples". Básico (irreflectido), indispensável. Resta, contudo, saber de que vale tão primitivo e linear comportamento no que toca à mais complexa situação alguma vez criada: a saudade.

"Matar" a saudade.....alguém me agarre acho que vou desfalecer. Sinto a doce satisfação, o prazer tóxico invadir-me num ápice. Em questão de momentos perco o controlo sobre as minhas funções básicas. Agarrem-me que matei a saudade e vou desfalecer. Desfaleço repetidamente, outra e outra vez. Sem que se aviste o fim, ela revela-se uma fénix, renascendo das cinzas, incapaz de me deixar o corpo esgotado. E contudo é essa mesma saudade maldita que me levanta da cama dia após dia, é o atrito da minha vida que impede a inércia apoderar-se de mim. 

Nunca provei veneno tão bom e tão arrasador, eu mato a saudade e entro em êxtase para novamente voltar ao degredo da saudade. Ciclo vicioso. Veneno bom (tenho medo da hora em que dentro do frasco que o guarda só reste ar e "vazio"). Há sempre tanta coisa, tanto tanto a dizer, a fazer, a sentir. A minha alegria de viver e de te viver e viver o resto da minha vida mais o medo que seja a última vez. E que mais? A tua recordação sempre que paro (verdadeiramente) um instante.

Não interessa o número de artifícios inventados na tentativa de o contrariar, és tu que martelas o meu inconsciente, és tu que entras e sais, sempre omnipresente, é a réstia de um beijo teu que ainda persiste suave na minha pele. É um ciclo vicioso e tudo avança a uma velocidade exponencialmente perigosa. Tudo se torna mais urgente e ao contrário das estatísticas, a progressão parece não ter um pico visível, apesar das oscilações periódicas que transformam o conjunto numa monotonia incerta e imprevisível mas sempre sempre crescente, considerando o limite mais natural.

Conseguiste impregnar.me de ti de uma maneira inequívoca, de tal modo que quando fecho os olhos, a tua mão quente continua a percorrer-me, os teus lábios ainda me provocam aquela reacção incapacitante, a tua voz mantem-me calma, inerte, expectante.

Este desarranjo, que se prolonga e agrava à medida que a saudade ressuscita e a progressão cresce, vai-se tornando cada vez mais familiar, cada vez mais presente e central. Aumenta as minhas fronteiras e os limites internos do que sou de formas imprensáveis. Até onde é possível esta expansão incontrolada e imprevista? Quando o limite que tende para o infinito é o próprio infinito, minhas forças me ajudem, pura satisfação. Êxtase!

Puro instinto. Natural, corrido, despejado na sua forma mais crua e pura.

 
__eu__ @ 08-10-2007 21:08:12
Comentários
@ 11-11-2011 4:27:25
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já não sei escrever assim
@ 04-11-2011 14:14:07
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É impressão minha ou só ao fim de 4 anos é que eu realmente percebi este texto?
@ 14-10-2007 23:29:29
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para um bocado e olha pra ti. chega a ser ridiculo a ideia de tu a nao escrever! eu junto umas palavras bonitas, tu es o pensador que encanta com historias que so alguns percebem.

eu aqui __ ; tu aqui ´´´

@ 10-10-2007 23:26:20
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quando vejo textos deste da me vontade de nunca mais escrever, és mesmo boa nisto.

(fisio n é pa ti... deixa os canones e segue)

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