Prosas
Havia um rapaz... (excerto)
"A tarde estava quente, o céu limpo e o sol brilhava com força. Estava sentada numa cadeira de plástico, na esplanada do café em frente ao prédio onde moro e na mesa à minha frente estava pousado um copo com gelo e uma lata de refrigerante. Há muito tempo que não se via um dia assim, quase de Verão, ainda para mais no fim do mês de Janeiro.
Na mesa ao lado, dois adolescentes mais ou menos da minha idade sussurravam por entre risos aquilo que adivinhei serem juras de amor eterno. Mais à frente dois velhotes jogavam uma bisca pachorrenta. O empregado do café circulava por ali, limpando mesas e arrumando cadeiras.
Senti-me um pouco entediada e desisti finalmente de esperar por algo ou por alguém que nunca mais chegava, paguei a conta e agarrei nas minhas coisas, levantando-me, não sem antes lançar um último olhar de inveja ao casalinho apaixonado.
Sabia que precisava de encontrar ainda não tinha percebido bem o quê e muito menos onde mas pelo menos aquela esplanada já não tinha muito mais para me oferecer por isso fui andando por aquela rua e depois por outras, observando as casas e as lojas que já conhecia de cor, olhando as pessoas com atenção, por vezes sorrindo a algumas, talvez porque me fizessem lembrar personagens de alguma história ou sonho antigo, ou porque simplesmente me pareciam simpáticas, surpreendendo por vezes um olhar cúmplice de quem entendia a busca que eu levava a cabo. Ou talvez fosse só a minha imaginação delirante que me causava o pânico súbito (ou seria apenas esperança?) de que me lessem os pensamentos.
Meia hora. Andei assim durante meia hora, mas parecia ter percorrido ali toda a minha curta vida e naquela rua por onde tinha passado vezes sem conta desde que me lembrava de ser gente, cruzei-me com o meu destino. Afinal, depois de uma busca desesperada e sem nexo, em que olhara cada rosto e perscrutara até o recanto mais escondido de cada rua, de cada cidade por onde já passara, era ali, numa rua da minha própria cidade, que nem sequer é assim tão grande e onde são já os meus pés que me guiam e não o contrário, era ali que estava o meu destino, como que esperando por mim."
 
June @ 01-04-2006 0:00:00
Comentários
@ 01-04-2006 0:00:00
Citar   Impróprio?
A introdução (ou espécie de) disto é a letra de uma música: =Nature boy there was a boy a very strange, enchanted boy they say he wandered very far, very far over land and sea a little shy and sad of eye but very wise was he and then one day, a magic day he passed my way and while we spoke of many things, fools and kings, this he said to me: the greatest thing youll ever learn is just to love and be loved in return=
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