Vejam a vida correndo desmedida,
Vejam os sonhos cair de descabida.
Vejam os viajantes tomarem nova ida…
Que eu do fosso nada vejo.
Invejo a sorte, de quem
Ao mundo a cores assiste.
-Não! – Não, invejo ninguém…
-Apenas quem não é triste.
E invejo… por não perceber…
Como, por que raios conseguem rir?
Positivistas, irrealistas não consigo entender.
Se dentro de mim vejo tudo a ruir.
Uma implosão que falhou…
Mergulhou-me no fosso.
O vazio quem em mim criou
Me dilacera até ao osso.
E este algo semelhante a um viver…
Não passa de uma ficção.
São passadas dadas a doer,
Nesta existência de consolo vão.
Sair do fosso… não quero…
Aqui, é tudo permanente e habitual.
Esperar? - Já nada espero…
O fosso se encarrega de ser brutal.
E juntamente aqui comigo, enterrei
Tudo o quanto eram sonhos, e visões…
No fosso comigo, o que errei
Guardei sem explicações.
E não me lancem cordas de salvação…
Abdico delas sem reconsiderar.
Antes o meu fosso e a podridão…
Do que um dia voltar a sonhar.
E no alvorecer da antiga alvorada,
Se ouvem os canhões, agora silenciosos.
No fosso meu, onde tudo é nada…
Não há momentos belos, só horrorosos.
E mergulho mais fundo…
Onde ninguém me possa chegar.
Perdi a esperança no mundo.
Sou abominável a teu a olhar.
Me resta o fosso e a ferida…
O fosso onde nada sou.
E a ferida, que dói desmedida.
O fragmento do que de mim sobrou