Poemas
FOSSO
Vejam a vida correndo desmedida,

Vejam os sonhos cair de descabida.

Vejam os viajantes tomarem nova ida…



Que eu do fosso nada vejo.



Invejo a sorte, de quem

Ao mundo a cores assiste.

-Não! – Não, invejo ninguém…

-Apenas quem não é triste.



E invejo… por não perceber…

Como, por que raios conseguem rir?

Positivistas, irrealistas não consigo entender.

Se dentro de mim vejo tudo a ruir.



Uma implosão que falhou…

Mergulhou-me no fosso.

O vazio quem em mim criou

Me dilacera até ao osso.



E este algo semelhante a um viver…

Não passa de uma ficção.

São passadas dadas a doer,

Nesta existência de consolo vão.



Sair do fosso… não quero…

Aqui, é tudo permanente e habitual.

Esperar? - Já nada espero…

O fosso se encarrega de ser brutal.



E juntamente aqui comigo, enterrei

Tudo o quanto eram sonhos, e visões…

No fosso comigo, o que errei

Guardei sem explicações.



E não me lancem cordas de salvação…

Abdico delas sem reconsiderar.

Antes o meu fosso e a podridão…

Do que um dia voltar a sonhar.



E no alvorecer da antiga alvorada,

Se ouvem os canhões, agora silenciosos.

No fosso meu, onde tudo é nada…

Não há momentos belos, só horrorosos.



E mergulho mais fundo…

Onde ninguém me possa chegar.

Perdi a esperança no mundo.

Sou abominável a teu a olhar.



Me resta o fosso e a ferida…

O fosso onde nada sou.

E a ferida, que dói desmedida.

O fragmento do que de mim sobrou

 
pseudo-poeta @ 02-11-2011 15:30:54
Comentários
@ 02-11-2011 22:51:26
Citar   Impróprio?
Parece, a mim, que apesar dessa atmosfera negra existe uma fuga à expectativa e à fantasia que frequentemente nos trai. O fosso como garantia do nada tem o seu brilho e gosto do texto por isso.
 
continua
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