Há um pai que abandona uma família.
Morre. E promete não voltar.
Até porque dizem, que ele nunca volta quando diz que vai demorar.
Há uma mulher, que tem filhos em casa. Filhos desse pai. Filhos, tapetes que compraram juntos, o cão que ainda está sentado à porta de casa, o candeeiro que precisava sempre do toque do pai, o mais alto lá de casa.
O pai morreu e deixou tudo. Deixou. Sim, deixou.
Não, não está sempre presente. Porque morreu. E quem está presente vê-se. Quem não está não se vê. Porque não está.
Deixou sem pensar. Morreu porque sim, porque as pessoas têm que morrer e ele achou por bem seguir essa tendência.
No entanto amanhã é outro dia e os miúdos têm que ter sopa para o almoço.
- Então e morreu de quê?
- Não sei, mas dizem que a mulher não anda de preto.
[23 Janeiro 2009]